quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Cantina escolar: a vilã da obesidade na infância e na adolescência

Casa Legislativa aprova projeto de autoria da vereadora Miriam Marroni que dispõe sobre alimentação saudável nas escolas de Pelotas

Lanches saudáveis devem ser oferecidos nas escolas para estimular bom hábito
A Câmara de Vereadores de Pelotas aprovou por unanimidade, na manhã de ontem (21), o Projeto de Lei 3975/10, da vereadora e deputada estadual eleita, Miriam Marroni (PT), que dispõe sobre a promoção da alimentação saudável nas escolas das redes pública e privada da cidade. O documento será encaminhado ao Poder Executivo e, assim que sancionado pelo prefeito Fetter Júnior (PP), os responsáveis pelas cantinas escolares terão 120 dias para se adequarem a nova lei.
Para a autora o projeto, a educação nutricional deve fazer parte do currículo escolar e ser adotado na prática dentro das escolas. “Se até a escola - que é símbolo de educação, informação e ensinamento do que é certo ou errado - permite comer ‘qualquer coisa’, nunca a criança vai compreender, assimilar, se educar. É da escola que se espera educação e regra. Sem isso, não haverá mudança de hábitos e costumes.
Miriam acrescenta que até o bebê ter um ano e meio ou dois , os pais tem um regramento e um cuidado exemplar com a alimentação dos filhos. “É uma alimentação muito mais saudável e equilibrada, com suquinho, sopinha de legumes, caldinho de feijão. São os pais que determinam o alimento do bebê e cuidam muito bem”.
Então, a partir dos três anos, aproximadamente, a criança começa a “se mandar”, pois passa por um processo mais amplo e socialização, ao começar a interagir com o mundo fora de casa, com os coleguinhas na escolinha, além de ser bombardeada pela propaganda. “Se a criança não come verduras e legumes, os pais simplesmente justificam que é porque ‘ela não gosta’. Então os pais têm a obrigação de mudar esse comportamento de aceitação e conformidade. Tudo é questão de hábito e costume, por isso, é fundamental a participação da escola nesse processo de mudança cultural”. Além disso, a escola precisa valorizar mais a atividade física.
A vereadora destacou ainda que os pais precisam perceber que não é somente porque os seus filhos já comem sozinhos, que eles podem escolher o que bem entender para se alimentar. “As crianças ainda precisam da nossa regra e equilíbrio”.


DADOS ALARMANTES
22% das crianças e adolescentes apresentam sobrepeso
6% já são obesas
23% apresentam sobrepeso nas escolas públicas
33% apresentam sobrepeso nas escolas privadas
80% é a chance de uma criança, de 10 anos, com sobrepeso se tornar um adulto obeso

O perigo e a tentação está na cantina

Estudos mostram que as crianças fofinhas de hoje, amanhã serão, provavelmente, obesas. Isso porque aos 10 anos de idade, crianças acima do peso já têm 80% de probabilidade e virar um adulto em eterna luta contra a balança. O risco de uma criança gordinha se tornar um adulto obeso aumenta exponencialmente quanto mais se demora para tratar o problema.

Segundo o Estudo Nutri-Brasil Infância, o Brasil ostenta um perigoso recorde. A porcentagem de crianças entre 2 e 5 anos de idade com sobrepeso já supera a dos Estados Unidos. E a de obesas logo, logo pode chegar lá também. No Brasil, 6% das crianças apresentam obesidade, ou seja, peso acima de 15% do ideal e 22% já apresentam sobrepeso (peso entre 10% e 15% do ideal). Nos EUA, os dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) acusam 10% para ambas as situações.
Um dos principais responsáveis pelos números alarmantes deve-se à tentação da cantina escolar, porque quase tudo o que é perigoso e tentador se encontra lá. E não apenas ao alcance mãos, mas longe da vista dos pais também. Outro fator determinante é o sedentarismo, por isso na necessidade do estímulo às atividades físicas.
Uma pesquisa feita pela Unifesp, com mais de 600 jovens em escolas públicas particulares, entre 10 e 15 anos, mostrou que 23% dos estudantes da rede pública apresentavam excesso de peso ou obesidade. Nas particulares, a situação é ainda mais alarmante, o índice ficou 10 pontos acima, ou seja, 33%. O estudo indica que o índice em escolas particulares é maior porque o maior poder aquisitivo dos estudantes faz com que consumam mais produtos industrializados de cantinas. O fato das escolas públicas oferecerem merenda escolar é outro fator responsável pela considerável diferença.


Uma verdadeira bomba-relógio
Segundo o estudo Saúde Brasil 2009 divulgado na última semana pelo Ministério da Saúde, o aumento da obesidade já provoca reflexos nas estatísticas de mortalidade no Brasil. Houve aumento de 10% das mortes provocadas por diabetes entre 1996 e 2007. A doença diretamente relacionada ao aumento do peso, é a terceira causa de mortalidade dos brasileiros, atrás de doenças cerebrovasculares (como derrame) ou cardíacas.
Nos próximos dias, o ministro José Gomes temporão apresentará um Plano Nacional de Enfrentamento da Obesidade, com propostas de ações a serem desenvolvidas junto com os ministérios do Esporte e Educação. A proposta prevê ainda envio ao Congresso de projetos de lei para melhor regular o tema, como tornar nacional a iniciativa pelotense de proibir alimentos muito calóricos e gordurosos nas cantinas das escolas. O plano deverá priorizar ainda a negociação coma indústria de alimentos processados, com o objetivo de reduzir os teores de açúcares e sal, além de promover ações educativas para estimular atividades físicas.


O QUE PREVÊ O PROJETO DE LEI
A legislação proíbe a comercialização dos produtos abaixo relacionados e a publicidade dos mesmos, inclusive por meio de patrocínios de atividades escolares e extracurriculares.
Alimentos proibidos: balas, pirulitos, gomas de mascar, biscoitos recheados; refrigerantes e sucos artificiais; salgadinhos industrializados; frituras em geral; pipoca industrializada; alimentos cuja preparação seja utilizada gordura vegetal hidrogenada

A lei estabelece ainda que a cantina escolar oferecerá para consumo, diariamente, pelo menos, uma variedade de fruta da estação in natura; inteira ou em pedaços; ou na forma de suco, preferencialmente com matéria-prima produzida na região.
Além disso, as escolas terão de adotar conteúdo pedagógico em atividades extraclasses sobre os seguintes temas: alimentação e cultura; refeição balanceada, grupos de alimentos e suas funções; alimentação e mídia; hábitos e estilos de vida saudáveis; frutas e hortaliças: preparo, consumo e sua importância para a saúde; fome e segurança alimentar; dados científicos sobre malefícios do consumo dos alimentos cuja comercialização é vedada por esta lei.

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